O Peregrino de Deus para o inverno da vida
Creio que a descrição que demos acima já, de certa maneira, facilita a compreensão deste tópico presente.
Mas eu quero chamar a atenção ao fato de que na antevéspera do inverno, Paulo queria seus livros e seus pergaminhos. Nós podemos quase nos surpreendermos ao ver um homem, que está se despedindo da vida, fazer pedidos de livros. É difícil entendermos um homem que sofria de enfermidade na sua prisão, mas que não podia em hipótese nenhuma esquecer os seus livros. Ele naturalmente sabia o conteúdo daquelas páginas e queria ainda olhar as letras que tinham sido marcadas por ele para que as lesse de novo.
Esta capa mencionada, temos inicialmente a ideia primeira de ser uma capa de chuva, ou uma capa de viagem, mas o termo original dá a ideia também de uma cobertura para os livros, ou seja, uma dessas sacolas de viagem, onde se podem carregar livros. No inglês a palavra porfor – tradução para essa palavra capa – e alguns argumentam que Paulo estava pensando já na proximidade de sua morte. Queria que viessem às suas mãos aqueles volumes que ele amava, para que os vistoriasse, e que para manter aqueles volumes junto a ele, lembrou que tinha esquecido uma sacola na casa de um amigo, e queria receber aquilo nos seus últimos dias. É interessante que ele não diz que eram livros necessariamente religiosos, mas era aquilo que ele queria ter e queria receber. Aquele que gosta de estudar sempre encontra tempo para fazê-lo, até mesmo antes que o inverno chegue.
A preparação, portanto, de Paulo, teve início com este ato solene: eu quero todos os livros. E existe aí para trás, uma sacola, de modo que deveriam chegar juntos. Mas ele queria também a companhia do seu jovem amigo. Eu volto a referir-me a esse jovem Timóteo numa citação que tenho feito repetidas vezes a respeito dele, extraída da sua carta aos Filipenses, e é exatamente aqui que Paulo fala carinhosamente a Timóteo:
“Eu espero, porém, no Senhor Jesus, mandar-vos Timóteo, o mais breve possível, a fim de que eu me sinta animado também, tendo conhecimento da vossa situação. Porque ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide dos vossos interesses; pois todos eles buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus.
E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai. Este, com efeito, é quem espero enviar, tão logo tenha eu visto a minha situação”. (Filipenses 2.19-23)
Imaginemos, irmãos, o conforto que Paulo tinha ao mencionar nomes tão queridos na sua carreira: Áquila e Priscila; a casa de Onesíforo, (isto é, toda aquela família); Erasto, um amigo seu que ficou para trás; e o outro que ficou enfermo em Mileto. Agora ele fala de Éldolo, de Lino e Cláudia. Cada nome destes tem uma história.
Para Paulo, este Timóteo era tão precioso, que ele queria dedicar a ele o seu último momento, queria dar-lhe o seu derradeiro olhar.