Notícias Escobar – Dezembro – 1990
Houve certa dificuldade de importação de castanhas há alguns anos e os principais jornais tomaram aquele pequeno fato como matéria de primeira página. Alguns dos meus colegas jornalistas exageraram a coisa, deixando-se entrever um Natal sem natal! Castanhas naquela quadra do tempo se equivaliam ao próprio Natal!
Natal é mais, todavia, que castanhas, mais que rabanadas, ainda que preparadas por habilidosas mãos portuguesas! Natal é mais que Ceia em família e mais que confraternização de amigos.
Natal é mais que o próprio programa musical e festivo e mais que o próprio culto, com apresentações as mais especiais. Do ponto de vista da Bíblia, que é Natal?
Paulo apóstolo argumenta em sua epístola aos Gálatas, que, “na plenitude dos tempos Deus deu seu filho” (4.4).
Na beleza de língua original mais mensagem ainda, “pleroma toKronós”, ou seja, a compleição do tempo do relógio, de sequência, de se atingir um ponto predeterminado e que esperava pela circunstância de se alcançar a medida prevista!
A “Protesmia” de Jeová, o período de intervalo designado por Deus para o Natal, se havia de cumprir, e agora era plenitude, realidade. Em Efésios 1.10 o mesmo termo pleroma é usado para completar o sentido original de que Deus planejou e decidiu que seu filho Deus com ele aqui descesse.
Natal representa o mergulho do próprio Deus nas trevas inferiores do mundo maculado pelo pecado. Jesus representa o escafandrista, o mergulhador que deixou a glória celestial para sofrer a poluição e dor do pecado, no meio dos pecadores.
A PLENITUDE DOS TEMPOS
Temos um longo caminho trilhado no desenvolvimento e cumprimento do plano de Deus. Henry Law, famoso comentarista inglês, descobre somente em Gênesis mais de 50 referências ao prometido de Deus, o Messias, que seria o próprio Deus na descida da redenção, pelo sacrifício e morte. A linha vermelha da Graça de Deus se espalharia pelos livros da Bíblia como luz que brilha no final do túnel enegrecido pela presença do pecado. Jesus é o “anjo”, é o “shiloh” (menino) da visão de Jacó na bênção do seu filho Judá. Jesus é a “estrela” que procederá de Judá, é a representação da firma vermelha que havia de servir para livrar Raabe e sua família da destruição de Jericó.
Deus esperou pela plenitude.
Pessoalmente, rejeito comer frutos verdes. Ezequiel dizia que uvas verdes embotavam os dentes. Deus também preferiu esperar que o “Kronós” da caminhada do mundo apontasse o “pleiron”, a compleição.
O tempo falava de uma unidade política pelo domínio de Roma.
O tempo exibia comunicações mais fáceis para àquela hora e aquela gente.
O tempo exibia religiosidade e aplicação nas coisas sagradas por parte dos guardiões da Lei.
O agente foi Deus mesmo.
Ele enviou aquele que já existia desde a eternidade. O termo original aparece 6 vezes no Novo Testamento: Lc 1.53, 22.10-11; At 9.30, 17.14, 2.21, 7.12, 11.22, 12.11.
A simples leitura dos textos nos há de revelar a ideia de se enviar alguém para cumprir algo bem claro e definido ou idealmente proposto. Houve uma intimidade implícita entre quem enviou e o enviado. Jesus consentiu em se deixar esvaziar para que pela encarnação pudesse nos remir dos nossos pecados (Fp 2.5-9).
Esta vinda de Deus ao mundo na Pessoa de Jesus dividiu o tempo. Desde então começou a dizer “antes de Cristo e depois de Cristo”.
O primeiro capítulo da História aponta para a promessa; desde o mergulho do Senhor na Pessoa de Cristo, surge a História da Redenção que se vai completando na medida em que os homens abrem seus corações, abandonam seus pecados e práticas contrárias à santidade de Deus e se rendem pela fé ao Senhor da História.
Observemos ainda os recipientes incluídos na linguagem apostólica. “Estava debaixo”, mas a vinda do Filho na plenitude dos tempos lhes trouxe alforria e se tornaram “filhos” (v.5). O termo traduzido como “remir” implica a ideia de se comprar alguém e no tempo se compravam escravos!
Os recipientes visados de Deus são os pecadores. O próprio Cristo declarou ao multimilionário Zaqueu: “o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido”.
Natal é salvação, é a mão de Deus estendida aos homens, convidando-os para a salvação. Jesus é Profeta, Sacerdote e Rei.
Ele é o “nabi” do céu, aquele que leva o conhecimento de Deus ao homem. O eterno nabi, profeta, aparece 300 vezes no Velho Testamento, sendo que Jeremias é o mais recordista do uso do termo, que aparece 92 vezes no texto de sua comunicação. O termo embute conceito de se chamar e proclamar.
Jesus é também Sacerdote, Kohen, Iereu, nas línguas originais. Ele é Deus encarnado e traz Jeová ao alcance do homem. Não é simples proclamador de que em é Deus, mas aquele que abre as comportas do poder maravilhoso de Deus, colocando a graça à disposição de todo aquele que se arrepende. “Por Ele temos acesso ao Pai”. Jesus recebeu de Paulo a qualificação de “único mediador entre os homens” (1Tm 2.5). Jesus é Rei e como tal foi saudado pelos Magos que vieram do Oriente. No culto que celebraram com o menino Jesus, os Magos lhe ofertaram “ouro, incenso e mirra” (Mt 2.11). O ouro que pertence aos reis, o incenso que marca a divindade e a mirra que simbolizava o sofrimento. Natal é, portanto, Deus que se manifesta de forma corporal, tendo em vista trazer de volta a Deus “aquele que se havia perdido”. Mais que castanhas ou sociabilidade, deixemos que o Natal seja culto e adoração, entrega e consagração ao Senhor do Natal, Jesus Cristo!