Não sei se o título de nossa palestra corresponde fielmente ao nosso objetivo. E para dissipar possíveis dúvidas vamos dar em traços gerais algo do que pretendemos fazer hoje, bem como nas outras ocasiões em que seremos privilegiados por esta hora de adoração conjunta. Compreendo a exeguidade de tempo e a dificuldade de sintetizar em poucas palavras uma obra tão majestosa quanto a do ministério cristão. Talvez que em três tópicos distintos consigamos sumarizar aquilo que será dito. No primeiro tópico discutiremos: O ministério cristão como uma vocação, um cargo. No segundo tópico discutiremos o preparo para o ministério cristão. No terceiro tópico abordaremos a questão do sustento do ministério, segundo a própria orientação e plano divinos.
I – O ministério cristão é uma vocação, um cargo e um ofício. Claro que não havíamos de identificar o ministério cristão com o ministério sacerdotal do Antigo Testamento. Mas jamais deixaríamos de notar neste muito de semelhante àquele. E notaremos mais que a menos que o ministro do Novo Testamento seja um sacerdote em sua obra de intercessão por um mundo perdido, muito do seu esforço seria perdido.
O sacerdócio do Antigo Testamento foi estabelecido por Deus e houve homens especialmente preparados e comissionados para esse sublime mister. Em Êxodo 28.1-3 temos a ordem de Deus a Moisés para que escolhesse a casa de Arão para servir na linhagem sacerdotal. Deus queria que os sacerdotes fossem seus ministros sem outra ocupação além da obrigação sagrada de intercederem pelo povo em suas necessidades e em seus pecados. Notai que logo após a declaração de escolha Deus insiste em que os sacerdotes fossem vestidos de maneira diferente como que para declarar claramente a sua função especial, a sua vocação e o seu ofício. Esta passagem deve ser lida, entretanto em conexão com o capítulo oito de Levítico. Ali encontramos não somente o cerimonial e solenidade da investidura a tão elevado cargo, como também algo sobre o sustento do sacerdote, o que será estudado mais tarde. Por ora basta notarmos que Deus ordenou imediatamente após a ordenação que seus sacerdotes comessem das carnes sacrificadas, demonstrando assim seu interesse no sustento de seus vocacionados.
O trabalho desses homens assim vocacionados por Deus para ministrar os sacrifícios segundo o rito levítico e simbólico do sacrifício de Cristo, teriam igualmente mitos pontos comuns em relação ao ministério glorioso de Jesus. Eram homens, como Jesus se fez carne e habitou entre nós. Mais que isto eles eram escolhidos por Deus entre os homens para cumprirem um mister glorioso, qual seja o de servir de mediadores entre Deus e os homens pelo sacrifício propiciatório.
De modo simbólico o ministro do Evangelho cumpre ainda hoje tão elevadas funções. Somos nós aqueles que recebem a incumbência de ajudar a orientar o povo no oferecimento de seus corpos como um “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus através de um culto perfeitamente racional”. Com que tremor e temor, amados irmãos, devemos nós receber e acariciar e glorificar o esplendor da vocação com que fomos chamados, pois que, como diz a Palavra, é nosso dever “velar pelas almas de nossos irmãos como se por suas almas devêssemos dar conta”.
II – Os profetas da teocracia. Além do sacerdócio antigo convém pensarmos ligeiramente em torno dos profetas que se levantaram durante a teocracia e através de todo o período subsequente a esta, até a vinda do Senhor. Os profetas não constituíam uma classe semelhante à dos sacerdotes, com uma herança de pais para filhos de dever do sacerdócio. Mas eram chamados por Deus para um fim especial. De Moisés até Samuel aparecem alguns profetas de maneira esporádica, sem constituírem propriamente uma classe distinta de obreiros de Deus. Mas a partir de Samuel não se tem mais dúvida quanto a isto. Vale a pena ler com cuidado a bela cena de 1 Reis 19.19-21 quando o intemerato profeta Elias lança sua capa sobre o jovem Eliseu e o leva após si para servir como seu sucessor no ministério glorioso da profecia. Não se ouve desde então que Eliseu tivesse voltado a lavrar com os bois, antes o vemos consagrando seu tempo e talento à tarefa gloriosa de proclamar e ensinar as verdades de Deus. É igualmente notável aquele exemplo descrito em Amós, capítulo sete versos 14 e 15 onde o profeta explica àquele que o mandava partir para outro lugar a razão pela qual ele havia de permanecer em seu posto custasse o que custasse. “Eu não era profeta, nem filho de profeta, mas boieiro e cultivador de sicômoros... Mas o Senhor me tirou de após o gado e me disse: Vai e profetiza”. Diante de tamanha confiança em sua chamada para uma missão especial e definida o profeta a tudo deixara e a nada mais ambicionava senão cumprir o ministério glorioso para o qual fora chamado.
Os profetas exortavam o povo, aos seus governadores, aos reis e a todo aquele que precisasse experimentar uma mudança de atitude e vida. Os profetas explicavam não tanto a letra da lei Mosaica, mas principalmente o seu espírito. Os profetas proclamavam bem alto a sublime verdade de que Jesus havia de vir e que mister se faziam frutos sazonados.