Atos 28.1-6
“Quando já estávamos são e salvos em terra, soubemos que a ilha se chamava Malta. Os moradores dali nos trataram com muita bondade. Como estava chovendo e fazia frio, fizeram uma grande fogueira. Paulo ajuntou um feixe de gravetos e estava jogando no fogo, quando uma cobra, por causa do calor, agarrou-se na mão dele. Os moradores da ilha viram a cobra pendurada na mão de Paulo, e comentaram: Este homem deve ser assassino. Ele escapou do mar, mas mesmo assim o destino não vai deixá-lo viver. Paulo, porém, sacudiu a cobra dentro do fogo e não sentiu nada. Eles estavam esperando que ele ficasse inchado, ou que caísse morto de repente. Mas, depois de esperar bastante tempo, vendo que a não acontecia nada, mudaram de ideia, e disseram: ele é deus!”
É muito interessante a passagem que acabamos de ler, porque fixa de modo claro as reações da multidão em relação a uma pessoa que hoje está no auge da glória e amanhã pode estar no vale da derrota.
No seu livro “Sangue e Areia”, Vicente Blasco Ibañez conta a história de Galhardo, e na realidade é o herói do romance. Galhardo, ao tempo de adolescente, impelido pela vocação irresistível de tourear, vivia pelas fazendas e no matadouro da sua terra, a provocar animais bravios, exibindo lutas vazias. Abandonava o emprego, era uma tortura para a mãe, e todos o consideravam vagabundo e incorrigível. Seu cunhado não o tolerava. Mas eis que o cunhado ficou muito curioso e ao sair de casa disse à esposa: “Vou ver como o povo vai fazer correr à pedrada aquele sem vergonha do teu irmão”.
O sucesso que o rapaz alcançou foi eletrizante e, neste momento, o parente que ali estava para criticá-lo, passou a exclamar com entusiasmo: É meu cunhado! Sempre me pareceu que esse rapaz seria alguma na tourada. Minha mulher e eu temos ajudado muito.
Este exemplo de Blasco Ibañez calha perfeitamente nessa situação que acabamos no livro de Atos, de um povo que tinha convicções tão por cima, que não podia realmente racionar em profundidade. Paulo, para eles, era aventureiro. Paulo para eles era um assassino. Paulo, para eles era alguém que tinha escapado do mar, mas que morreria por causa do destino, pelo simples fato de ter sido atingido por uma víbora que saíra da fogueira.Mas, de repente, o povo muda de ideia. Paulo sacode a víbora para dentro do fogo, não incha e não morre. Então aquela gente o trata como um deus! Dois extremos: É um assassino, é um deus. Trata-se de um maldito, de um foragido; e agora trata-se de um deus.
A lição que nós devemos guardar é que não existe derrota para aquele que age com lealdade. Não existe realmente derrota para aquele que está disposto a seguir o seu caminho, olhando para os seus ideais, planos e propósitos, e nunca para os seus críticos algozes e perseguidores.
Olhando para Jesus, é a meta do autor da Carta aos Hebreus. Olhando para Jesus, foi o segredo de Paulo em todo o seu ministério. Olhando para Jesus é o desafio nosso, nesse mundo de crise e de incompreensões.